Hoje faz a primeira manhã de sol (entre nuvens) depois de quase duas semanas de chuvas fortes, garoas ou dias nublados; e mesmo assim, não veio o frio que era esperado. Prova incontestável não apenas do desequilíbrio ambiental/climático, mas do próprio aquecimento global: até a poucos anos atrás, dois ou três dias sem sol aqui na nossa região dos campos gerais (centro-sul do Paraná) seriam suficientes pra despencar as temperaturas, e a partir de então, assim que o céu limpasse viriam as madrugadas de geadas! As geadas, de fato, têm sido menos freqüentes nos nossos invernos desde meados da década de 1990, quando tivemos nossos primeiros invernos absolutamente sem geadas de que me lembro em toda a minha vida! Aí, em 2000 tivemos um frio recorde, que matou árvores adultas, calejadas pelos invernos dos anos anteriores. Aqui temos um abacateiro (da variedade mais resistente ao frio) de cerca de 15 metros de altura e tronco de 60 cm que, naquele ano, teve mais da metade de seu galhos e da altura do tronco necrosados pela geada, e hoje, recuperado, ele tem mais da metade do tronco completamente oco, lembrando árvores habitadas por duendes em filmes de florestas mágicas. De lá pra cá, neste início de século, as coisas regularizam um pouco mais e voltamos a ter geadas não muito fortes em quase todos os invernos; mas tivemos secas terríveis em verões e primaveras, épocas que normalmente seriam as mais chuvosas; em 2006 fui a Porto Alegre durante o Fórum Social Mundial, quando o Estado do RS atravessava uma das piores secas, com temperaturas elevadíssimas. A grama das praças, na capital, tinha secado, e as pessoas testemunhavam que algumas cidades do interior já estavam então há 4 meses sem ter uma gota de chuva. Logo depois acompanhamos pela TV a seca ocorrida no Amazonas, região que é naturalmente a mais úmida do país, quando o nível do rio baixou assustadoramente e milhões de peixes morriam por falta de oxigênio. Chegamos ao verão de 2009 com nova seca aqui no Sul, semelhante àquela de 2006. Desta vez foi mais forte justamente na minha região. Ponta Grossa chegou a ficar mais de três meses praticamente sem chuvas (praticamente porque houve garoas ou chuvas muito rápidas em pontos isolados; mas mais isolados ficamos nós, aqui ao norte da cidade próximos às margens do rio Pitangui, onde essas garoas não vieram e os olhos d’água de que dependem muitas famílias estavam quase secando). Aí recomeçaram as chuvas, no outono, e de repente tivemos o frio antecipado, com sucessivas geadas fortes, justamente no final do mês de maio. Na natureza, um dos resultados da seca de verão e geadas antecipadas de outono foi que praticamente não tivemos temporada de frutas nativas, especialmente as mirtáceas (goiabas, jabuticabas e araçá...). Na lavoura, claro, os agricultores sofreram com a seca e agora... sofrem com as chuvas!
Verão seco e inverno chuvoso, nessa região onde o normal seria exatamente o contrário. Eu pessoalmente, até comemoraria o inverno úmido e menos gelado, pois assim há menos queimadas, que em invernos normalmente mais secos originam grandes incêndios florestais, devido não apenas ao ar seco mas especialmente à vegetação semi-seca, atingida pelas geadas. Menos queimadas, por enquanto, mas uma grande preocupação com esse desequilíbrio. Se a umidade do ar continuar alta e as geadas não vierem, poderemos ter um excesso de mosquitos na primavera, por exemplo, inclusive do aedes egypti que até poucos anos atrás nem existia por essas bandas.